quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Apostila da Capacitação em contação de histórias bíblicas para crianças

                  APOSTILA DA CAPACITAÇÃO

                            EM CONTAÇÃO DE 

                        HISTÓRIAS BÍBLICAS 

                             PARA CRIANÇAS 

- Principais técnicas.



Créditos : Rafael Lima

















1. INTRODUÇÃO
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Esta apostila é a compilação sintética de estudos variados que fiz sobre a contação de histórias e seu impacto no ensino da Palavra de Deus para as crianças, em suas diversas etapas de crescimento. A Escola Bíblica é o coração da igreja, onde os pequenos devem ser recebidos com amor, em um ambiente adequado, com atividades que proporcionem o seu desenvolvimento. Por isso, os professores voluntários cristãos devem se preparar, em todo o tempo, diante desta grande responsabilidade no Reino de Deus: a formação de discípulos de Jesus.
Nem todos os cristãos adultos puderam receber uma educação bíblica desde a infância. Mas, dentre aqueles que tiveram esse privilégio, não faltam testemunhos de pessoas que receberam o chamado de Deus, enquanto ainda eram bem jovens. Como diz um ditado cristão: “Quem ganha uma criança, ganha uma vida inteira”.
Na Bíblia, não faltam relatos de crianças educadas no temor do Senhor, assim como foi com Samuel. O próprio Jesus, o mais poderoso contador de histórias, disse que as crianças devem se achegar a Ele, porque o Reino dos Céus pertence aos que são semelhantes a elas. Portanto, mesmo que você não tenha recebido a Verdade nas primeiras fases da sua vida, faça diferença agora: semeie o amor neste tempo.
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“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Provérbios 4:23
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2. A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS
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Cada pessoa tem histórias que merecem ser contadas com, pelo menos, uma digna de ser publicada. Histórias são o meio principal de aprendizado porque elas nos permitem “andar nos sapatos” do outro, vendo situações por outro ponto de vista. Essa arte vem de longas datas na História da humanidade. E Jesus foi um mestre nessa arte enquanto andou sobre a terra, pela sua força em fixar em nossas mentes a palavra através de imagens, gestos e amor.
Existem vários estilos de arte que foram agregados ao ato de narrar, mas nenhum deles pode substituir a manifestação da palavra narrada. O uso de desenhos, objetos, música e teatro tornam-se belos atrativos para a contação. Contudo, o domínio da história pelo contador é fundamental para a transmissão da essência pura do texto ao ouvinte. A arte está na convicção, na vivência e na experimentação do contador na própria história que narra.
Pela leitura e contação de histórias, aproximamos as crianças do mundo letrado, alimentamos seu imaginário, conduzimos a experiência lúdica, enriquecemos seu vocabulário, aprimoramos seu traçado no desenho e na escrita e desenvolvemos sua oralidade, entre outros conceitos e habilidades. Contar histórias é uma prática pedagógica que deve ser diária na rotina escolar. Contar e narrar histórias difere-se da leitura propriamente dita.
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3. O CONTADOR
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O contador é aquele que nos transmite conhecimentos através de histórias. Por isso é que os professores de Educação Bíblica de nossas igrejas são verdadeiros contadores de histórias no ensino da Palavra de Deus. O contador é o elo do público com o mundo imaginário; um veículo da língua viva.
Hoje, o contador tem o status de artista. Os apresentadores de programas de televisão se intitulam contadores de histórias porque buscam apresentar casos diferentes para seu público. Isso porque o grau do seu desempenho pode garantir o sucesso de sua contação. O contador da atualidade deve estar atualizado em tudo que possa facilitar a amplitude de sua mensagem.
Todas as pessoas tem uma forma diferente de contar histórias, e isso é um privilégio para as crianças. Já pensou se todos contassem da mesma maneira? Seria chato. Portanto, desenvolva a sua própria forma de narrar os acontecimentos com ensaio e prática. Aproveite as oportunidades que tiver, com histórias curtas, médias e longas. Exercite contando uma história do jeito mais rápido possível e, depois, acrescente os detalhes aos poucos.
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4. A HISTÓRIA
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A história tem de preencher em nós algo que julgamos que nos falte. A melhor história é, certamente, aquela que aguça nossa curiosidade e causa expectativa. As histórias bíblicas podem ser contadas de maneira literal, exatamente conforme está registrado no livro sagrado, ou de forma imaginária, a partir da perspectiva de um personagem. Por exemplo, “A Arca de Noé” pode ser contada conforme está o texto em Gênesis ou, em um segundo momento, a partir da visão de um dos animais – sem deixar de confrontá-la com as escrituras.
Ao escolher uma história, é necessário que ela atenda aos interesses dos ouvintes em sua vida diária ou daquela que gostariam de viver. A história deve ser bem construída, com seus conflitos definidos e suas soluções identificadas. Escreva a história que irá contar para que ensaie com a maior naturalidade, como se você fosse testemunha ocular do que estiver descrevendo.
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Partes da História
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Começo
Quem? Quando? Onde? Estas perguntas devem ser respondidas despertando o interesse do ouvinte.
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Enredo
São os episódios que constituem a história. Devem ser claros e possuir sequência lógica, desenvolvendo de modo que os fatos aumentem de interesse até o...
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Clímax
É o que se pretende alcançar na história. Não precisa de surpresa, mas também não deve estar evidente desde o começo. A história sem um ponto culminante é fraca e pouco interessante.
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Conclusão
Simples e satisfatória, de modo que a criança sinta que a história terminou.
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Dicas para uma boa história
Uma boa história contém poucos personagens e um contexto específico, que dá para as crianças imaginarem a cena. É como se você estivesse pintando um quadro. Imagine que eles estão vendo a cena por uma janela: o que fica dentro da cena, o que não precisa estar lá? Um excesso de elementos pode distrair o seu ouvinte, mas a ausência de elementos talvez impeça que a cena se crie na imaginação.
Uma boa história convida o ouvinte a se identificar com os sentimentos do protagonista principal e a torcer por ele. Ela me convida a entrar nos sapatos de alguém e ver o mundo do seu ponto de vista, a partir de um conflito básico. Lembre-se que tudo o que é incluído na parte introdutória deve ressaltar a importância deste conflito.
Uma história infantil, de forma simplificada, pode terminar de duas formas:
Final feliz – O conflito foi resolvido de forma satisfatória, onde o mundo tem uma ordem e não é preciso temer. As histórias com final feliz dão esperança.
Final triste – O conflito por não ter sido resolvido, porque causou uma consequência indesejada. Estas são as histórias que servem de lição.
A Bíblia está cheia dos dois tipos! Um exemplo do segundo tipo na cultura popular é a história do menino que fingia que estava afogando. No dia em que, de fato, começou a se afogar, ninguém se moveu porque acharam que ele estava brincando. Usamos estas histórias para alertar os ouvintes em relação a algum perigo ou ameaça. As histórias que “dão lição” são muito importantes. No entanto, é aconselhável manter o equilíbrio entre estas e as que “dão esperança”. Ninguém gosta de pensar na vida como um grande pântano cheio de perigos e obstáculos.
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Tipos da História
A mesmo história pode ser contada para uma criança, com enriquecimento dos detalhes bíblicos a cada faixa etária. Por exemplo, Davi e Golias é contada com o som do gigante caindo ao chão para os pequenos, e com os detalhes do que Davi fez com a espada do inimigo de Israel para crianças a partir dos nove anos. O tipo de história bíblica deve ser adequado para cada fase infantil.
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De 2 a 6 anos – Pré-leitura
Nessa fase ocorre o desenvolvimento da linguagem oral. Desenvolve-se a percepção e o relacionamento entre imagens e palavras: som e ritmo.
Tipo de leitura recomendada: Livros de gravuras, rimas infantis, cenas individualizadas.
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De 6 a 8 anos – Leitura compreensiva
A criança adquire a capacidade de ler textos curtos. Leitura silábica e de palavras. As ilustrações dos livros, que são extremamente necessárias, facilitam a associação entre o que é lido e o pensamento a que o texto remete.
Tipo de leitura recomendada: Aventuras no ambiente próximo, família, escola, comunidade, histórias de animais, jornadas, problemas.
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De 8 a 11 anos – Leitura interpretativa
Aqui, ocorre o desenvolvimento da leitura propriamente dita. A criança já tem capacidade de ler e compreender textos curtos e de leitura fácil com menor dependência da ilustração. Orientação para o mundo da alegoria.
Tipo de leitura recomendada: Contos imaginários, épicos, histórias de humor.
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5. OS 12 ELEMENTOS
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1) Emoção
Expressar emoções é fundamental para o sucesso da contação de uma história. A história, antes de tocar o público, deve tocar o contador. Emoção não é traduzida somente pelo choro. A emoção é o combustível para todos os recursos da narração. É um momento alegre? Sorria. É assustador? Conte em voz baixa para não ser atacado.
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2) Texto
O conhecimento do texto resulta em segurança no uso das palavras. É necessário fazer uma leitura profunda e reconhecer as partes formadoras do texto contado (introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho). Assim, poderá dominar a sequência dos fatos e construir, minimamente, um roteiro mental da história. Não decore! Fale com suas palavras, naturalmente.
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3) Encaixe (Adequação)
Cada história precisa ser adequada ao público ouvinte, ao espaço em que vai ser apresentada e ter uma linguagem acessível que não descaracterize o estilo do texto. Quanto menores as crianças, menor o tempo de atenção concentrada e maior a necessidade de simplificar a história. Geralmente, é importante adequar a história ao cotidiano infantil familiar para melhor absorção do conhecimento transmitido. Por isso, é tão importante se certificar da faixa etária do público-alvo.
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4) Postura
O peso do corpo deve ser bem distribuído, com a coluna ereta, sem ficar fazendo transferências de peso ou “balançando”, além de não falar nas pontas dos pés ou com as pernas dobradas. Tudo isso causa alteração no som de sua voz e prejudica a atenção do público à narração.
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5) Gestos
A expressão corporal é um grande suporte para a transmissão da mensagem falada. Os gestos e seus significados fazem o papel da ilustração do texto. Esses gestos podem ser divididos em três possibilidades:
Gesto ilustrativo – o mais comum e o mais usado. Ele exprime a ideia mais objetiva das coisas, representa os signos e os significados de ideias de conhecimento coletivo, tais como: colocar as duas mãos ao lado do rosto para representar o ato de dormir; mão no queixo, para pensamentos; coçar a cabeça, para dúvida...
Gesto enfático – usado para reforçar o que estamos dizendo. Representa o juízo que fazemos das coisas. Por exemplo, o uso das mãos espalmadas e afastadas para mostrar que uma coisa é grande.
Gesto sintético – mais simbólico. Ele tem o valor mais pessoal sobre o que está sendo dito, como, alisar o braço para significar o amor em vez de colocar a mão no coração.
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6) Voz
O contador deve ter a voz como uma extensão do seu corpo. A voz inclui elementos como o timbre, ritmo, altura e intensidade. Com a voz, podemos representar ações que faríamos com gestos. Com ela, damos personalidade a uma personagem e incrementamos, com efeitos sonoros, a narração de uma história. Se você consegue fazer mudanças em sua voz para algum personagem, treine antes de usar; fará uma grande diferença no enredo.
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7) Olhar
O olhar é o “cordão umbilical” dos contadores com a plateia. O tom de pessoalidade se dá com o olhar, como se a história estivesse sendo contada para cada expectador, de maneira individual. Sem isso não nasce a contação da história.
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8) Ritmo
Assim como uma música, cada história tem um ritmo diferente. Nenhuma história tem o mesmo clima do início ao fim. A manipulação do ritmo resulta no clima que o contador deseja transmitir à plateia em determinado momento. É Necessário estudar bem a história e desenvolver a partitura rítmica de seu texto. Por exemplo, podemos falar mais rápido em uma cena de ação e mais pausadamente em um momento em que os personagens estão caminhando por um bosque ensolarado.
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9) Memória
Não é simplesmente decorar o texto: memorizar é saber guardar a sequência da história, fazendo despertar a emoção de cada parte e buscando sua maior expressividade. O segredo é saber usar a sua memória afetiva para transferi-la ao momento exato da história.
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10) Crédito
O contador tem de fazer a plateia acreditar no que ele conta, por mais inverossímil que possa parecer. Se não viveu a história, precisa fazer com que todos acreditem que a presenciou como testemunha ocular. A linguagem é importante para passar credibilidade, mas não pense que o domínio da norma culta da língua portuguesa é exigência para saber contar histórias. Afinal, os seres humanos já contavam histórias antes da formação dos idiomas. Se tiver dúvidas, visite pessoas mais velhas na zona rural e confira como elas conseguem prender a sua atenção contando seus “causos”.
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11) Pausa e silêncio
Não é uma interrupção na história sem propósito, mas é uma suspensão na fala com o objetivo de enfatizar um efeito e até ampliar o impacto sobre o que acabou de ser dito. É o tempo para a plateia respirar, pensar no que foi dito e construir a imagem mental. É uma parada cheia de significados. A pausa é breve e o silêncio tem uma duração maior.
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12) Estética
É o senso de transformar uma simples contação num espetáculo. Para isso, o contador deve estar atento a não limitar sua narrativa a uma simples declamação. Mesmo que o tempo de exposição seja breve e para poucas crianças, deve ser bem ensaiado. O zelo do contador é fazer de cada aula, um momento inesquecível para quem aprende.
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Recursos Visuais para Contar Histórias:
Livros variados;
Gravuras – com varetas;
Fantoches – marionetes;
Dramatizações – Teatro;
Filminho ou cineminha – máscaras;
Teatro de sombras;
Flanelógrafo;
Brinquedos;
Desenhos feitos durante da história;
Dobraduras e Recortes;
Cartelas com partes da história;
Slides;
Materiais alternativos.
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6. PREPARANDO A HISTÓRIA
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O Estudo
Antes de qualquer coisa, é preciso oração e estudo da Bíblia para fundamentar a história. Seja literal ou imaginativa, pesquise com a leitura em várias traduções do mesmo texto. Recomendo a Bíblia de Estudo Arqueológica da Editora Vida e o site Bíblia Online (www.bibliaonline.com.br), como fontes enriquecedoras para um contador de histórias bíblicas.
Selecione a história conforme o público ouvinte (idade, local, número de pessoas), estabelecendo um verdadeiro amor e compromisso pelos ouvintes. Quanto mais você ensaiar, mais tranquilidade e voz agradável, clara e com entonação. Seja humilde para treinar, sem jamais pensar que você já sabe tudo sobre uma história ou assunto. Lembre-se que sempre haverá alguém que faz algo melhor do que nós e, por isso, podemos sempre aprender com outras pessoas.
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O Ensaio
Leia em voz alta do começo ao fim;
Descubra qual é a “intenção” sugerida pelo texto ou ilustração;
Fixe na mente a sequência lógica dos eventos;
Se precisar, faça um pequeno esboço da história para não se perder;
Nunca decore a história;
Viva a história ao contá-la, conte com ânimo;
Não esqueça: “contar” a história não é somente ler!
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O Ambiente
Particularmente, eu gosto de fazer algumas brincadeiras antes da história, que reforcem os conceitos-chave da lição. Por exemplo, se vou falar sobre “Jesus e a ressurreição de Lázaro”, posso brincar de telefone de lata (para explicar a força da palavra) e de enrolar uma criança com rolo de papel higiênico (para simbolizar as ataduras de Lázaro). Assim, no momento da contação, as crianças terão registros mentais que ajudarão a fixar a lição com mais clareza.
É importante aguardar silêncio antes de começar, a fim de preparar o ambiente para que as crianças ouçam com atenção. Você pode cantar uma música, uma brincadeira leve ou até fazer alguma técnica de relaxamento muscular. Se por algum motivo tiver que chamar a atenção de algum ouvinte não o faça, mas deixe que outra líder tome à dianteira. Você deverá somente contar a história para que ninguém se distraia.
Mas, se você estiver sozinho com a classe, combine com o grupo regras para que a história não seja interrompida. Uma estratégia é localizar as crianças mais agitadas e convidá-las a lhe ajudar a cuidar da plateia.
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O Momento
Na hora de começar a história, comece como um espetáculo. Surja, mude o olhar, comece de costas, mas deixe claro que o momento começou. Você pode usar um aparelho eletrônico para tocar uma trilha sonora instrumental, desde que tenha ensaiado com ela.
Olhe nos olhos dos ouvintes e não perca o foco. Use gestos naturais e leves, use sua expressão corporal para contar a história no ritmo, com alegria e prazer. Não fique ansioso para chegar ao clímax da história, porque acontecerá no tempo que você mesmo determinar.
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7. HORA DE COMEÇAR
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O Senhor nos transmitiu o seu amor através dos relatos bíblicos, chegando a mudar o rumo da nossa própria história através da salvação que recebemos em Cristo Jesus.
O esboço de uma história para crianças deve ser o mesmo de um sermão para adultos, com a diferença que é preciso simplificar o conceito até que uma criança possa entender. Rascunhe, ensaie, experimente. A responsabilidade que precisamos ter na transmissão das verdades eternas é a mesma para adultos, jovens e crianças.
Agora é o momento de você se preparar para contar uma história bíblica para algumas crianças. Garanto que a reação dos pequenos motivará você a se preparar cada vez mais para esta importante missão. Enquanto você se prepara, aproveite este tempo para o seu próprio crescimento espiritual.
Que o Senhor fale mais com você, através da Bíblia!
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